domingo, 12 de janeiro de 2014

A Arte de Ensinar / Educar

"Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias."
                                                                                                                      Augusto Cury
 Sobre ensinar e educar:
"Professor(a) ensina, pai e mãe educam", dizia uma camisa pendurada num stand da Bienal. Será?
Mesmo entendendo o contexto em que tal frase é formulada (no sentido de que as crianças estão chegando à escola sem referências básicas da boa educação, àquela que vem de casa), olhando um pouco mais profundamente, perceberemos que tentar dissociar um termo do outro, não passa de uma tentativa ilusória de brincar com as palavras, pois que quando ensino algo a alguém, o faço com uma intenção e nisso está implícito o ato de educar. Quando me preocupo em educar (meu filho ou meu aluno) não consigo tirar disso um ensinamento, uma instrução. Ou seja, querer separar, ou ainda valorizar um termo em detrimento do outro, é fragmentar ainda mais o que chamamos de Educação, seja na escola, ou em casa.

Neste sentido, tratarei neste escrito com o termo "Ensinar/Educar" por não conseguir dissociá-los verdadeiramente e por ter uma visão de que nossa sociedade deveria e poderia ser mais integrada.

Gosto muito da ideia de tribo (apesar de saber de vários rituais específicos de algumas tribos onde crianças são submetidas a provas - para nós - absurdas); mas me refiro a uma história em especial: Onde cada adulto da tribo é responsável por todas as crianças. Desta forma, os pais sabem que mesmo que estejam ocupados em seus afazeres diários, alguém estará junto a seu filho e mais: ensinando algo para sua formação. O aprendizado é contínuo, não tem hora pré determinada. O conhecimento é algo vinculado à vida diária, das coisas que se referem à sua tribo. Ainda assim, isso não exime os pais de sua responsabilidade.

Desse modo, reformulando a frase que usei ainda pouco: "Professor(a) ensina/educa, pai e mãe educam/ensinam".

Quem não guarda com carinho aquele momento especial em que o pai ensinou a andar de bicicleta ou a soltar pipa? Ou ainda quando a mãe explicou como misturar determinados ingredientes para se fazer aquele bolo tão gostoso? Na vida, ensinar e educar não se dissociam um do outro e quase sempre vem acompanhados de uma boa dose de afetividade, seja boa de recordar, ou aquela que você quer esquecer a todo custo.




Sobre a arte que é ensinar/educar:
 Todos somos capazes de ensinar algo a alguém. Disso ninguém discorda.  Mas ensinar/educar sistematicamente, para várias pessoas ao mesmo tempo e tendo a noção de que cada pessoa apreende a informação de um modo diferente, é algo que demanda estudo e dedicação. Transformar o ensinar/educar em profissão. Talvez  a valorização do professor tenha relação com a quebra deste paradigma de que 'ensinar é fácil ou que é algo que qualquer um pode fazer', independente de formação, estudo e dedicação específicos para tal atuação. Não se trata de nos apropriarmos do ato de ensinar/educar, isso é direito de todos. Mas de elevar este ato à um nível sistematizado, ou ainda: uma Arte.

A Arte de ensinar/educar se refere a valorizar o ato em si, o momento de aula, a relação com o(a) aluno(a); aquele momento específico em que você transmite uma informação, muitas vezes de forma "apaixonada" (pelo conhecimento ali abordado) e ao mesmo tempo, prestando atenção se o(a) aluno(a) está receptivo ao ensinamento. Demanda sensibilidade, estudo e dedicação.

Segundo Marilena Chauí, a palavra Arte é derivada (em grego) do termo Técnica. Neste sentido, desenvolver-se em qualquer arte, passa por desenvolver-se tecnicamente. Se quero aprender a tocar violão, meu professor me ensinará alguns acordes e cabe a mim repeti-los o máximo que eu puder, para que quando chegue à próxima aula, eu possa continuar a lição, aprendendo novos acordes.

Se quero fazer teatro, mas não me dedico a entender o texto, memorizá-lo, seguir as marcações pedidas pelo diretor, não conseguirei chegar ao nível da criação, que obrigatoriamente precisa de uma base anterior para surgir.

 Qualquer coisa que queira se dizer Arte, tem que possuir determinadas características e passar por determinados processos*:

1º - Técnica (Observação/constatação); 2º - Aprendizado da Técnica; 3º  - Apropriação da técnica; 4º - Treinamento da Técnica até que se torne "orgânica"; 5º - "Transcendência" da técnica (ou pelo menos da execução de forma consciente); 6° - Relação com outras vivências; 7° - Criação.

Ou se quisermos resumir em três passos:
1° - Assimilação / Reconhecimento da Técnica;
2° Adaptação / Treinamento sistemático / Disciplina.
3° - Transcendência / Relações / Criação / Feed back

Ou seja, mesmo que todo ser humano seja capaz de ensinar algo a alguém (e é mesmo!), fazer disso sua profissão e mais, sua Arte, eleva o ato de ensinar/educar a outro patamar e exige estudo e dedicação específicos para tal.  Não digo isso para que fiquemos soberbos ou corporativistas, mas para que aprendamos a nos valorizar,   reconhecendo-nos como verdadeiros artistas do ensinar/educar que somos.

 * Nota:  Esta divisão não é rígida, nem segue a um autor específico. Refere-se a um misto de vivências e estudos pessoais ao longo dos anos, de observação e experiências minhas como ator, diretor , preparador corporal e autor teatral.

2 comentários:

Profª Rosilene Pereira disse...

Amigo, bom seu texto e para mim a educação é a maior arte que se tem. Não existe arte mais bela do que um sujeito bem formado em sua integridade moral e ética, isso é educação. Sinto-me uma artesã da mente humana, do desenvolvimento humano, ser responsável por isso.
Assim, "Não há nada mais belo e mais legítimo do que o homem agir bem e devidamente" (Montaigne)

bjk

Marcel disse...

Obrigado Rosilene! Sempre bom trocar com vc querida! Beijo Grande!!