Tão
importante quanto a “Educação para o lazer” ou para a “formação do cidadão
crítico e participativo”, seria o que poderíamos chamar de Educação para a
Sensibilidade (ou para a humanização – embora não goste deste termo por
considerar que ninguém se desumaniza por cometer atos considerados errados, mas
creio que esta é outra discussão).
Trata-se
de pensar uma formação que ao invés de prezar pela transmissão de vários
conteúdos (hipervalorizando o aspecto cognitivo em detrimento de outros), teria
como objetivo maior estimular os educandos a serem mais sensíveis, ou seja, com
uma percepção emocional mais ampla não só relacionada às suas questões
pessoais, mas também em perceber e compreender melhor o outro.
O
que se pode observar atualmente, é um acúmulo de informações a serem
memorizadas como se fôssemos máquinas (e não digo que a memória não seja
importante, ao contrário, é muito importante, mas não precisa ser a única
capacidade a ser estimulada), com um estímulo muito grande à competitividade e
à encarar o outro como mais um adversário a ser derrotado, seja no campeonato
da escola, no vestibular ou na vaga para o emprego “que paga melhor”. Longe de
achar que se qualificar não seja algo importante, mas não podemos perder de
vista a urgência em se vislumbrar o desenvolvimento intencional (isso faz toda
a diferença), da sensibilidade de nossos educandos.
O
que nos leva à outra necessidade: a de nos sensibilizarmos também.
Trabalhamos
numa perspectiva fabril, industrial, onde temos que dar conta do máximo de
informações no mínimo tempo possível. Isso nos empurra para um ritmo e um
estilo de vida que nos aliena[1]
pouco a pouco e vai se incorporando à nossa cultura.
Quando
nos vemos temporariamente livres desse momento de opressão que se tornou nossa
rotina, queremos relaxar e somos educados ao longo de anos e anos para
gostarmos do entretenimento mais “fácil de digerir”, que não nos faça pensar,
sentir, que não nos provoque o íntimo, ou seja, que apenas nos sirva de
entretenimento.
Sem
nos apercebermos disso, vamos escolhendo sempre os mesmos formatos de filme,
música, peças de teatro, dentre outras coisas.
Um
filme mais “artístico”, que busque ser mais sensível, acaba interessando apenas
a pequenos grupos específicos de profissionais ou amantes da arte.
Buscar
uma educação para sensibilidade, também seria uma forma de contemplar aqueles
educandos que já são mais sensíveis que a maioria e que normalmente são
excluídos e ridicularizados pelos demais, por não conseguirem se adaptar ao
sistema vigente (de fábrica, produção, alienação).
Tão
importante quanto saber “o que o autor tal quis dizer com tal poema”, é antes
disso, proporcionar que o educando leia poemas, se aventure a escrever poemas,
aprenda a gostar de poemas (aliás, não só de poemas, mas de tudo que diz
respeito a uma visão mais poética da vida).
Uma
pessoa com um raciocínio industrial, bancário (como diria Paulo freire), diria
que tudo isso só servirá “a quem quer ser poeta, ou artista”. Uma educação para
a sensibilidade ou, melhor ainda, para a sensibilização do ser humano,
entenderia que poesia, música, dança, arte de modo geral, bem como toda e
qualquer manifestação da cultura humana nascida de um momento de inspiração[2], é
algo que deve fazer parte do cotidiano de todo ser humano.
Quem
sabe se com essa educação não formaríamos cidadãos não só mais sensíveis, mas
também mais felizes (?).
[1] O
termo Alienação é empregado aqui no sentido utilizado por Marx. “Um estilo de
vida que nos aliena“, neste caso, refere-se a um estilo de vida que não nos
permite usufruir dos produtos resultantes do nosso próprio trabalho ou esforço
pessoal.
[2] É
claro que Arte não se resume à Inspiração e há quem diga que esta só aparece
para quem trabalha muito. Talvez só o termo inspiração seja motivo para outro
escrito mais aprofundado. Mas o caso aqui é apenas de atentar o leitor para a
sensibilização ao olhar uma manifestação da cultura humana.
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