terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Sobre os pequenos detalhes


Tentei desligar a luz interna do espelho do banheiro, enquanto segurava um livro (O vendedor de passados, de José Eduardo Agualusa), gesto que nunca havia feito. Resultado: Não conseguia apagar, até que tive que trocar o livro de mão, olhar para o botãozinho (que na verdade está mais para uma pequena alavanca) para só então perceber que para ser desligado, ele deveria ser empurrado da direita para esquerda.

Há quantos anos repito esse gesto (sem o livro, que fique claro), de ligar e desligar a luz e nunca havia reparado neste detalhe ?! A ponto de não saber responder, caso alguém viesse me visitar e me perguntasse: _ Pra que lado se move a pequena alavanca quando você quer desligá-la? (É óbvio que isso nunca vai acontecer, mas caso aconteça, agora já sei!).

Na verdade só usei esse 'causo' porque foi o que me fez refletir sobre essa questão de nos tornarmos mais atentos aos detalhes à nossa volta. Quantas e quantas coisas vamos automatizando à nosso redor, sem ao menos nos apercebermos disso?

Outra experiência, que quem sofre do mesmo mal que eu vai entender, que me fez prestar mais atenção aos pequenos detalhes, foi a primeira vez que tive uma crise de dor na coluna, em que eu não conseguia ficar de pé, sentado, abaixado e só o que me restava, para sentir um pouco menos de dor, era ficar deitado.

Mas mesmo deitado, quando estamos com muita dor, temos que mudar de posição e a cada virada ou mexida, por mais boba e sutil, eu ia "à lua" - pra usar uma expressão comum a quem já passou por qualquer dor aguda. Mesmo não querendo você começa a perceber, por exemplo, que partes do corpo você tem que movimentar, ainda que com cuidado, para mudar de posição ou até levantar, de forma que sinta o mínimo de dor possível. Você descobre que se apoiar em locais de sua casa que você nunca nem chegou perto, pode ser alternativa interessante para te ajudar a se locomover.

Yochi Oida - Ator e Teórico Japonês - descreve em sua obra "O Ator Invisível", a importância de redescobrirmos pequenos detalhes, usando o exemplo do espadachim ou samurai, que descobre que o simples fato de fechar com mais força o dedo mindinho ao segurar o cabo da espada, fortalece e dá mais segurança à sua empunhadura. Curioso que sou (digo, cientista, pesquisador) testei a mesma técnica no soco executado na prática do Karatê, para descobrir / constatar com muita alegria que realmente a técnica se aplicava também ao fechar a mão do Karatê.

Outro aspecto que podemos vislumbrar envolvendo essa questão dos detalhes e tem muito a ver com essa coisa de Natal, Ano Novo, reflexão e melhoramento de sua própria conduta moral, etc, é o quanto nossa vida corrida e frenética, aliada à uma quantidade absurda de estímulos externos, nos leva a ficar menos sensíveis aos detalhes de nossa própria vida, ou como algumas pessoas preferem: "Às pequenas coisas da vida".

Pode parecer bobo, piegas, mas creio que temos que resgatar cada vez mais a nós mesmos, nossa essência. Valorizar mais as pessoas e menos as coisas / objetos. Nos espiritualizarmos mais, no sentido do desapego material, da valorização da vida, das palavras e ações de bem e de tudo que nos traga paz e harmonia íntimas, não só alegria efêmera, momentânea e quase ilusória, de euforia barata.

Que o espírito do Natal possa nos envolver em bençãos de Luz, para que nos tornemos seres humanos melhores para todos os que estão à nossa volta.

"Fazer o bem sem olhar a quem" só é cafona para quem só pensa em si mesmo (que tem o umbigo como centro do universo, como bem diria Yemna), ou prefere ainda não olhar para o lado.

Estamos longe de vivermos numa sociedade justa. Então que comecemos por nós mesmos, pelos que estão perto de nós e claro, sem esquecermos os detalhes...e por falar em detalhes importantes: Nessa data celebramos o nascimento de Jesus, a fraternidade e o amor ao próximo :)

"Seja a mudança que quer ver no Mundo" já dizia "Grande Alma" Gandhi.

Feliz Natal!!!!!!!

Nenhum comentário: