terça-feira, 15 de abril de 2014
Amig@s
Peço 2014 desculpas pela ausência no mês de março, mas é que realmente o tempo se tornou mais escasso por conta das tarefas do mestrado.
Quem sabe em um desses feriadões eu não consiga dividir com vcs algumas das minhas angústias, inquietudes e reflexões pedagógico-filosóficas?
Uma Páscoa de grandes reflexões a tod@s!!!
Marcel
quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014
Educação Para Sensibilidade
Tão
importante quanto a “Educação para o lazer” ou para a “formação do cidadão
crítico e participativo”, seria o que poderíamos chamar de Educação para a
Sensibilidade (ou para a humanização – embora não goste deste termo por
considerar que ninguém se desumaniza por cometer atos considerados errados, mas
creio que esta é outra discussão).
Trata-se
de pensar uma formação que ao invés de prezar pela transmissão de vários
conteúdos (hipervalorizando o aspecto cognitivo em detrimento de outros), teria
como objetivo maior estimular os educandos a serem mais sensíveis, ou seja, com
uma percepção emocional mais ampla não só relacionada às suas questões
pessoais, mas também em perceber e compreender melhor o outro.
O
que se pode observar atualmente, é um acúmulo de informações a serem
memorizadas como se fôssemos máquinas (e não digo que a memória não seja
importante, ao contrário, é muito importante, mas não precisa ser a única
capacidade a ser estimulada), com um estímulo muito grande à competitividade e
à encarar o outro como mais um adversário a ser derrotado, seja no campeonato
da escola, no vestibular ou na vaga para o emprego “que paga melhor”. Longe de
achar que se qualificar não seja algo importante, mas não podemos perder de
vista a urgência em se vislumbrar o desenvolvimento intencional (isso faz toda
a diferença), da sensibilidade de nossos educandos.
O
que nos leva à outra necessidade: a de nos sensibilizarmos também.
Trabalhamos
numa perspectiva fabril, industrial, onde temos que dar conta do máximo de
informações no mínimo tempo possível. Isso nos empurra para um ritmo e um
estilo de vida que nos aliena[1]
pouco a pouco e vai se incorporando à nossa cultura.
Quando
nos vemos temporariamente livres desse momento de opressão que se tornou nossa
rotina, queremos relaxar e somos educados ao longo de anos e anos para
gostarmos do entretenimento mais “fácil de digerir”, que não nos faça pensar,
sentir, que não nos provoque o íntimo, ou seja, que apenas nos sirva de
entretenimento.
Sem
nos apercebermos disso, vamos escolhendo sempre os mesmos formatos de filme,
música, peças de teatro, dentre outras coisas.
Um
filme mais “artístico”, que busque ser mais sensível, acaba interessando apenas
a pequenos grupos específicos de profissionais ou amantes da arte.
Buscar
uma educação para sensibilidade, também seria uma forma de contemplar aqueles
educandos que já são mais sensíveis que a maioria e que normalmente são
excluídos e ridicularizados pelos demais, por não conseguirem se adaptar ao
sistema vigente (de fábrica, produção, alienação).
Tão
importante quanto saber “o que o autor tal quis dizer com tal poema”, é antes
disso, proporcionar que o educando leia poemas, se aventure a escrever poemas,
aprenda a gostar de poemas (aliás, não só de poemas, mas de tudo que diz
respeito a uma visão mais poética da vida).
Uma
pessoa com um raciocínio industrial, bancário (como diria Paulo freire), diria
que tudo isso só servirá “a quem quer ser poeta, ou artista”. Uma educação para
a sensibilidade ou, melhor ainda, para a sensibilização do ser humano,
entenderia que poesia, música, dança, arte de modo geral, bem como toda e
qualquer manifestação da cultura humana nascida de um momento de inspiração[2], é
algo que deve fazer parte do cotidiano de todo ser humano.
Quem
sabe se com essa educação não formaríamos cidadãos não só mais sensíveis, mas
também mais felizes (?).
[1] O
termo Alienação é empregado aqui no sentido utilizado por Marx. “Um estilo de
vida que nos aliena“, neste caso, refere-se a um estilo de vida que não nos
permite usufruir dos produtos resultantes do nosso próprio trabalho ou esforço
pessoal.
[2] É
claro que Arte não se resume à Inspiração e há quem diga que esta só aparece
para quem trabalha muito. Talvez só o termo inspiração seja motivo para outro
escrito mais aprofundado. Mas o caso aqui é apenas de atentar o leitor para a
sensibilização ao olhar uma manifestação da cultura humana.
domingo, 12 de janeiro de 2014
A Arte de Ensinar / Educar
"Educar é ser um artesão da personalidade, um poeta da inteligência, um semeador de ideias."
Augusto Cury
Sobre ensinar e educar:
"Professor(a) ensina, pai e mãe educam", dizia uma camisa pendurada num stand da Bienal. Será?
Mesmo entendendo o contexto em que tal frase é formulada (no sentido de que as crianças estão chegando à escola sem referências básicas da boa educação, àquela que vem de casa), olhando um pouco mais profundamente, perceberemos que tentar dissociar um termo do outro, não passa de uma tentativa ilusória de brincar com as palavras, pois que quando ensino algo a alguém, o faço com uma intenção e nisso está implícito o ato de educar. Quando me preocupo em educar (meu filho ou meu aluno) não consigo tirar disso um ensinamento, uma instrução. Ou seja, querer separar, ou ainda valorizar um termo em detrimento do outro, é fragmentar ainda mais o que chamamos de Educação, seja na escola, ou em casa.
Neste sentido, tratarei neste escrito com o termo "Ensinar/Educar" por não conseguir dissociá-los verdadeiramente e por ter uma visão de que nossa sociedade deveria e poderia ser mais integrada.
Gosto muito da ideia de tribo (apesar de saber de vários rituais específicos de algumas tribos onde crianças são submetidas a provas - para nós - absurdas); mas me refiro a uma história em especial: Onde cada adulto da tribo é responsável por todas as crianças. Desta forma, os pais sabem que mesmo que estejam ocupados em seus afazeres diários, alguém estará junto a seu filho e mais: ensinando algo para sua formação. O aprendizado é contínuo, não tem hora pré determinada. O conhecimento é algo vinculado à vida diária, das coisas que se referem à sua tribo. Ainda assim, isso não exime os pais de sua responsabilidade.
Desse modo, reformulando a frase que usei ainda pouco: "Professor(a) ensina/educa, pai e mãe educam/ensinam".
Quem não guarda com carinho aquele momento especial em que o pai ensinou a andar de bicicleta ou a soltar pipa? Ou ainda quando a mãe explicou como misturar determinados ingredientes para se fazer aquele bolo tão gostoso? Na vida, ensinar e educar não se dissociam um do outro e quase sempre vem acompanhados de uma boa dose de afetividade, seja boa de recordar, ou aquela que você quer esquecer a todo custo.
Sobre a arte que é ensinar/educar:
Todos somos capazes de ensinar algo a alguém. Disso ninguém discorda. Mas ensinar/educar sistematicamente, para várias pessoas ao mesmo tempo e tendo a noção de que cada pessoa apreende a informação de um modo diferente, é algo que demanda estudo e dedicação. Transformar o ensinar/educar em profissão. Talvez a valorização do professor tenha relação com a quebra deste paradigma de que 'ensinar é fácil ou que é algo que qualquer um pode fazer', independente de formação, estudo e dedicação específicos para tal atuação. Não se trata de nos apropriarmos do ato de ensinar/educar, isso é direito de todos. Mas de elevar este ato à um nível sistematizado, ou ainda: uma Arte.
A Arte de ensinar/educar se refere a valorizar o ato em si, o momento de aula, a relação com o(a) aluno(a); aquele momento específico em que você transmite uma informação, muitas vezes de forma "apaixonada" (pelo conhecimento ali abordado) e ao mesmo tempo, prestando atenção se o(a) aluno(a) está receptivo ao ensinamento. Demanda sensibilidade, estudo e dedicação.
Segundo Marilena Chauí, a palavra Arte é derivada (em grego) do termo Técnica. Neste sentido, desenvolver-se em qualquer arte, passa por desenvolver-se tecnicamente. Se quero aprender a tocar violão, meu professor me ensinará alguns acordes e cabe a mim repeti-los o máximo que eu puder, para que quando chegue à próxima aula, eu possa continuar a lição, aprendendo novos acordes.
Se quero fazer teatro, mas não me dedico a entender o texto, memorizá-lo, seguir as marcações pedidas pelo diretor, não conseguirei chegar ao nível da criação, que obrigatoriamente precisa de uma base anterior para surgir.
Qualquer coisa que queira se dizer Arte, tem que possuir determinadas características e passar por determinados processos*:
1º - Técnica (Observação/constatação); 2º - Aprendizado da Técnica; 3º - Apropriação da técnica; 4º - Treinamento da Técnica até que se torne "orgânica"; 5º - "Transcendência" da técnica (ou pelo menos da execução de forma consciente); 6° - Relação com outras vivências; 7° - Criação.
Ou se quisermos resumir em três passos:
1° - Assimilação / Reconhecimento da Técnica;
2° Adaptação / Treinamento sistemático / Disciplina.
3° - Transcendência / Relações / Criação / Feed back
Ou seja, mesmo que todo ser humano seja capaz de ensinar algo a alguém (e é mesmo!), fazer disso sua profissão e mais, sua Arte, eleva o ato de ensinar/educar a outro patamar e exige estudo e dedicação específicos para tal. Não digo isso para que fiquemos soberbos ou corporativistas, mas para que aprendamos a nos valorizar, reconhecendo-nos como verdadeiros artistas do ensinar/educar que somos.
* Nota: Esta divisão não é rígida, nem segue a um autor específico. Refere-se a um misto de vivências e estudos pessoais ao longo dos anos, de observação e experiências minhas como ator, diretor , preparador corporal e autor teatral.
Augusto Cury
Sobre ensinar e educar:
"Professor(a) ensina, pai e mãe educam", dizia uma camisa pendurada num stand da Bienal. Será?
Mesmo entendendo o contexto em que tal frase é formulada (no sentido de que as crianças estão chegando à escola sem referências básicas da boa educação, àquela que vem de casa), olhando um pouco mais profundamente, perceberemos que tentar dissociar um termo do outro, não passa de uma tentativa ilusória de brincar com as palavras, pois que quando ensino algo a alguém, o faço com uma intenção e nisso está implícito o ato de educar. Quando me preocupo em educar (meu filho ou meu aluno) não consigo tirar disso um ensinamento, uma instrução. Ou seja, querer separar, ou ainda valorizar um termo em detrimento do outro, é fragmentar ainda mais o que chamamos de Educação, seja na escola, ou em casa.
Neste sentido, tratarei neste escrito com o termo "Ensinar/Educar" por não conseguir dissociá-los verdadeiramente e por ter uma visão de que nossa sociedade deveria e poderia ser mais integrada.
Gosto muito da ideia de tribo (apesar de saber de vários rituais específicos de algumas tribos onde crianças são submetidas a provas - para nós - absurdas); mas me refiro a uma história em especial: Onde cada adulto da tribo é responsável por todas as crianças. Desta forma, os pais sabem que mesmo que estejam ocupados em seus afazeres diários, alguém estará junto a seu filho e mais: ensinando algo para sua formação. O aprendizado é contínuo, não tem hora pré determinada. O conhecimento é algo vinculado à vida diária, das coisas que se referem à sua tribo. Ainda assim, isso não exime os pais de sua responsabilidade.
Desse modo, reformulando a frase que usei ainda pouco: "Professor(a) ensina/educa, pai e mãe educam/ensinam".
Quem não guarda com carinho aquele momento especial em que o pai ensinou a andar de bicicleta ou a soltar pipa? Ou ainda quando a mãe explicou como misturar determinados ingredientes para se fazer aquele bolo tão gostoso? Na vida, ensinar e educar não se dissociam um do outro e quase sempre vem acompanhados de uma boa dose de afetividade, seja boa de recordar, ou aquela que você quer esquecer a todo custo.
Sobre a arte que é ensinar/educar:
Todos somos capazes de ensinar algo a alguém. Disso ninguém discorda. Mas ensinar/educar sistematicamente, para várias pessoas ao mesmo tempo e tendo a noção de que cada pessoa apreende a informação de um modo diferente, é algo que demanda estudo e dedicação. Transformar o ensinar/educar em profissão. Talvez a valorização do professor tenha relação com a quebra deste paradigma de que 'ensinar é fácil ou que é algo que qualquer um pode fazer', independente de formação, estudo e dedicação específicos para tal atuação. Não se trata de nos apropriarmos do ato de ensinar/educar, isso é direito de todos. Mas de elevar este ato à um nível sistematizado, ou ainda: uma Arte.
A Arte de ensinar/educar se refere a valorizar o ato em si, o momento de aula, a relação com o(a) aluno(a); aquele momento específico em que você transmite uma informação, muitas vezes de forma "apaixonada" (pelo conhecimento ali abordado) e ao mesmo tempo, prestando atenção se o(a) aluno(a) está receptivo ao ensinamento. Demanda sensibilidade, estudo e dedicação.
Segundo Marilena Chauí, a palavra Arte é derivada (em grego) do termo Técnica. Neste sentido, desenvolver-se em qualquer arte, passa por desenvolver-se tecnicamente. Se quero aprender a tocar violão, meu professor me ensinará alguns acordes e cabe a mim repeti-los o máximo que eu puder, para que quando chegue à próxima aula, eu possa continuar a lição, aprendendo novos acordes.
Se quero fazer teatro, mas não me dedico a entender o texto, memorizá-lo, seguir as marcações pedidas pelo diretor, não conseguirei chegar ao nível da criação, que obrigatoriamente precisa de uma base anterior para surgir.
Qualquer coisa que queira se dizer Arte, tem que possuir determinadas características e passar por determinados processos*:
1º - Técnica (Observação/constatação); 2º - Aprendizado da Técnica; 3º - Apropriação da técnica; 4º - Treinamento da Técnica até que se torne "orgânica"; 5º - "Transcendência" da técnica (ou pelo menos da execução de forma consciente); 6° - Relação com outras vivências; 7° - Criação.
Ou se quisermos resumir em três passos:
1° - Assimilação / Reconhecimento da Técnica;
2° Adaptação / Treinamento sistemático / Disciplina.
3° - Transcendência / Relações / Criação / Feed back
Ou seja, mesmo que todo ser humano seja capaz de ensinar algo a alguém (e é mesmo!), fazer disso sua profissão e mais, sua Arte, eleva o ato de ensinar/educar a outro patamar e exige estudo e dedicação específicos para tal. Não digo isso para que fiquemos soberbos ou corporativistas, mas para que aprendamos a nos valorizar, reconhecendo-nos como verdadeiros artistas do ensinar/educar que somos.
* Nota: Esta divisão não é rígida, nem segue a um autor específico. Refere-se a um misto de vivências e estudos pessoais ao longo dos anos, de observação e experiências minhas como ator, diretor , preparador corporal e autor teatral.
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